Desde criança, viajar faz parte da minha vida. No passado eu viajava (de ônibus) até três dias pelas rodovias do Brasil, do Rio de Janeiro rumo ao nordeste do país. Como era fantástico estar dentro de um ônibus rodoviário olhando pela janela as paisagens deste país chamado Brasil. E detalhe, a viagem era desconfortável, com poltronas semi-reclináveis e sem ar condicionado. O único vento que existia, entrava pela janela, isso quando estava sol ou tempo bom. Quando chovia, precisava fechar. A empresa que eu e minha família viajava era a Itapemirim. Cresci vendo e sabendo que essa empresa ligava o Brasil de ponta-a-ponta. Conheci vários estados e cidades, paradas de ônibus e diversos motoristas. Quando podia, eu sentava no corredor do ônibus e ficava conversando com o motorista (hehe). Aprendi que a palavra "Saliência" nas placas das rodovias em Minas Gerais significa "quebra-mola" ou "ondulação" no perímetro urbano por onde o ônibus passava.
Descobri que a Bahia é um estado muito grande. O ônibus entrava no início da manhã no estado e chegava a hora do jantar e ainda estávamos em território baiano. A BR-101 era nossa rota do RJ, passando pelo Espírito Santo até parte da Bahia. O destino era o estado do Maranhão. Depois de Feira de Santana a viagem demorava até Petrolina, no estado de Pernambuco. Aí mora o perigo! O ônibus chegava à noite na cidade de Petrolina e parava em um terminal ou rodoviária (não me lembro) e tinha que esperar horas até sair um mega comboio de ônibus com viaturas da polícia rumo a cidade mais próxima, já praticamente na divisa com o estado do Piauí. Por que? Assaltos. A rodovia na época (BR-407) não era boa e os assaltos eram frequentes. Essa parte da viagem era a mais assustadora possível, mesmo assim não sentia segurança!
Na manhã seguinte, o café era em Picos, já no estado do Piauí. Depois da madrugada tensa, o dia era outro, muito melhor, na medida do possível. Pois, dois dias viajando de ônibus convencional, o cansaço era grande e o gasto financeiro também (segundo meus pais, hehe). Nesse tempo todo de viagem, a gente faz amizades com as pessoas que viajam no mesmo ônibus. Eu não me recordo desta época, somente anos seguintes quando estava com mais idade, saindo da fase de criança para adolescente. Outros problemas que surgiam, eram os defeitos nos ônibus. A Itapemirim praticamente fabricava os modelos convencionais e executivos da época (tendo esses modelos até o início dos anos 2000). O convencional se chamava TRIBUS, chassi e motor da Mercedes-Benz e era de carroceria forte. Mesmo assim eles "quebravam", linguagem usada por passageiros e motoristas. Aí tinha que contar com a sorte do motorista em tentar resolver o problema ou da empresa mandar outro veículo que vinha da base mais próxima, ou seja, de outra cidade. Isso atrasava ainda mais a viagem. Era normal. Ficávamos vulneráveis em estradas/rodovias deste Brasil quando isso acontecia.
Tudo poderia ficar ainda pior, sim, ficava. O banheiro do ônibus era a coisa mais desagradável que existia. Depois de 6h de viagem, 44 passageiros utilizando o mesmo banheiro, o odor era o mais desagradável possível. Nas paradas (intervalos) da viagem que ocorria a cada 4 horas para almoçar, jantar ou tomar café da manhã, os banheiros das lanchonetes/restaurantes ficavam cheios. E só "limpavam" o nosso ônibus 1 vez por dia. Ou seja, 3 dias viajando o banheiro e o interior do ônibus só era limpo 3 vezes. Quando a coisa estava muito suja, os passageiros clamavam ao motorista e acontecia de limpar 2 vezes no dia. Não era toda base ou parada que tinha suporte com equipe de limpeza e manutenção dos veículos. Enquanto o busão passava por uma vistoria/limpeza, as filas dos restaurantes eram imensas. Se fosse em época de festa de fim de ano, dava pra se perder e confundir os ônibus, afinal, dezenas de veículos amarelos escritos TRIBUS Itapemirim, era surreal. A identificação era pelo número do ônibus (40030, por exemplo) porque haviam veículos extras.
Voltando as cidades, de Picos (PI) à Presidente Dutra, já no estado do Maranhão, era ansiedade pura. A hora de descer e concluir a primeira parte da viagem era o sonho do dia. Porque depois tinha mais estrada e outro ônibus até a cidade onde meu avô reside. No interior do ônibus tinha tudo que você imaginar: toalhas de banho "penduradas", lençóis, travesseiros, bolsas com comidas, biscoitos, bebidas, gente que não tomava banho - detalhe a parte, hehe - crianças chorando, casal "namorando", calor, suor, tudo. Essa aventura fez parte da minha vida durante a infância (Rio de Janeiro X Nordeste), durante o início da adolescência (incluindo Rio X Brasília) e terminou em meados dos anos 2000. Mas antes, no final da década de 90, a coisa melhorou: passei a viajar em ônibus ''frescão" como era chamado na época. Os veículos executivos da Itapemirim, os modelos "STAR BUS" tinha o abençoado ar condicionado, água mineral, banheiro (pouco melhor) e poltronas anatômicas melhores e com melhor inclinação. Ônibus executivo, mas que era bem melhor que viajar em modelo convencional.
Na década de 2000 as passagens aéreas ficaram mais acessíveis e todo sofrimento acabou. Trocamos a Itapemirim que foi muito útil em nossas vidas, pela TAM e seus AIRBUS A320 ou A321, que diminuiu o tempo de viagem de 3 dias entre Rio de Janeiro e Maranhão para 3 horas entre Aeroporto Tom Jobim (GIG) e Aeroporto Cunha Machado (SLZ) em São Luís. Foram 6 viagens de ônibus antes de mudar para o avião. Hoje, viajar de ônibus pelas perigosas estradas do Brasil tem seu preço: gasto absurdo com alimentação (café da manhã, almoço, lanche, jantar, possíveis emergências médicas), sem contar com a insegurança e o grande risco de acidentes. Viajar de avião é mais rápido, barato, seguro e eficaz. Mas há aqueles que ainda preferem viajar longas distâncias no transporte rodoviário, como a rota que eu citei nesta crônica. Eu aplaudo, pois é uma aventura sem igual. Ver as belíssimas paisagens deste Brasil, a vegetação diversificada, conhecer as cidades, compartilhar experiências e emoções a bordo dos ônibus é algo que nenhuma aeronave pode proporcionar. Boa viagem!
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Catedral da Cidade de Picos, PI. Foto: internet |
Na manhã seguinte, o café era em Picos, já no estado do Piauí. Depois da madrugada tensa, o dia era outro, muito melhor, na medida do possível. Pois, dois dias viajando de ônibus convencional, o cansaço era grande e o gasto financeiro também (segundo meus pais, hehe). Nesse tempo todo de viagem, a gente faz amizades com as pessoas que viajam no mesmo ônibus. Eu não me recordo desta época, somente anos seguintes quando estava com mais idade, saindo da fase de criança para adolescente. Outros problemas que surgiam, eram os defeitos nos ônibus. A Itapemirim praticamente fabricava os modelos convencionais e executivos da época (tendo esses modelos até o início dos anos 2000). O convencional se chamava TRIBUS, chassi e motor da Mercedes-Benz e era de carroceria forte. Mesmo assim eles "quebravam", linguagem usada por passageiros e motoristas. Aí tinha que contar com a sorte do motorista em tentar resolver o problema ou da empresa mandar outro veículo que vinha da base mais próxima, ou seja, de outra cidade. Isso atrasava ainda mais a viagem. Era normal. Ficávamos vulneráveis em estradas/rodovias deste Brasil quando isso acontecia.
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Modelo Tribus da Viação Itapemirim dos anos 90. Foto: internet/ Adamo Bazani |
Tudo poderia ficar ainda pior, sim, ficava. O banheiro do ônibus era a coisa mais desagradável que existia. Depois de 6h de viagem, 44 passageiros utilizando o mesmo banheiro, o odor era o mais desagradável possível. Nas paradas (intervalos) da viagem que ocorria a cada 4 horas para almoçar, jantar ou tomar café da manhã, os banheiros das lanchonetes/restaurantes ficavam cheios. E só "limpavam" o nosso ônibus 1 vez por dia. Ou seja, 3 dias viajando o banheiro e o interior do ônibus só era limpo 3 vezes. Quando a coisa estava muito suja, os passageiros clamavam ao motorista e acontecia de limpar 2 vezes no dia. Não era toda base ou parada que tinha suporte com equipe de limpeza e manutenção dos veículos. Enquanto o busão passava por uma vistoria/limpeza, as filas dos restaurantes eram imensas. Se fosse em época de festa de fim de ano, dava pra se perder e confundir os ônibus, afinal, dezenas de veículos amarelos escritos TRIBUS Itapemirim, era surreal. A identificação era pelo número do ônibus (40030, por exemplo) porque haviam veículos extras.
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Modelo StarBus da Viação Itapemirim nos anos 90. Foto: Divulgação/internet |
Voltando as cidades, de Picos (PI) à Presidente Dutra, já no estado do Maranhão, era ansiedade pura. A hora de descer e concluir a primeira parte da viagem era o sonho do dia. Porque depois tinha mais estrada e outro ônibus até a cidade onde meu avô reside. No interior do ônibus tinha tudo que você imaginar: toalhas de banho "penduradas", lençóis, travesseiros, bolsas com comidas, biscoitos, bebidas, gente que não tomava banho - detalhe a parte, hehe - crianças chorando, casal "namorando", calor, suor, tudo. Essa aventura fez parte da minha vida durante a infância (Rio de Janeiro X Nordeste), durante o início da adolescência (incluindo Rio X Brasília) e terminou em meados dos anos 2000. Mas antes, no final da década de 90, a coisa melhorou: passei a viajar em ônibus ''frescão" como era chamado na época. Os veículos executivos da Itapemirim, os modelos "STAR BUS" tinha o abençoado ar condicionado, água mineral, banheiro (pouco melhor) e poltronas anatômicas melhores e com melhor inclinação. Ônibus executivo, mas que era bem melhor que viajar em modelo convencional.
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Aeroporto Tom Jobim, Rio de Janeiro. Foto: Rio Galeão |
Na década de 2000 as passagens aéreas ficaram mais acessíveis e todo sofrimento acabou. Trocamos a Itapemirim que foi muito útil em nossas vidas, pela TAM e seus AIRBUS A320 ou A321, que diminuiu o tempo de viagem de 3 dias entre Rio de Janeiro e Maranhão para 3 horas entre Aeroporto Tom Jobim (GIG) e Aeroporto Cunha Machado (SLZ) em São Luís. Foram 6 viagens de ônibus antes de mudar para o avião. Hoje, viajar de ônibus pelas perigosas estradas do Brasil tem seu preço: gasto absurdo com alimentação (café da manhã, almoço, lanche, jantar, possíveis emergências médicas), sem contar com a insegurança e o grande risco de acidentes. Viajar de avião é mais rápido, barato, seguro e eficaz. Mas há aqueles que ainda preferem viajar longas distâncias no transporte rodoviário, como a rota que eu citei nesta crônica. Eu aplaudo, pois é uma aventura sem igual. Ver as belíssimas paisagens deste Brasil, a vegetação diversificada, conhecer as cidades, compartilhar experiências e emoções a bordo dos ônibus é algo que nenhuma aeronave pode proporcionar. Boa viagem!
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